domingo, 6 de outubro de 2013

O ESCRITOR JOSÉ RUEM FONSECA , NO QUE PESA SOBRE SUA FIGURA, COMO COLABORADOR DO GOLPE MILITAR NO BRASIL. LANÇA SEU NOVO ROMANCE.


Aos 86 anos, o escritor Rubem Fonseca figura no topo da lista dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. Ao lado de outro também grande, o curitibano Dalton Trevisan, Zé Rubem, como é conhecido pelo círculo restrito de amigos, construiu uma fama de recluso: nega-se a conceder entrevistas, não aprecia ser fotografado e, quando identificado em suas caminhadas “criativas” pelo bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, costuma dizer que “não, ele não é Rubem Fonseca, é Ruy Castro”. Sobre a sua biografia e vida pessoal, pouco se sabe. Agora, uma pequena novela inédita, “José” (Nova Fronteira), vem à luz e tudo indica que o escritor que odeia falar de si próprio anda com propensões a memorialista. Como no título do livro, Rubem Fonseca se chama mesmo José. Como o personagem, descrito em terceira pessoa, ele é descendente de imigrantes portugueses, nasceu em Juiz de Fora e foi para o Rio aos 8 anos de idade. Também como o protagonista de sua história, estudou advocacia, foi comissário de polícia, tornou-se um escritor – e famoso: o do livro lembra encontros com a autora americana Susan Sontag e viagens a prêmios literários internacionais. Todas essas coincidências levam a crer que o autor esteja falando de seus anos de formação. Mas ainda assim, Rubem Fonseca mantém o mistério em torno da criatura que parece ser ele próprio e cujas andanças por um Rio de Janeiro hoje inexistente ganha às vezes ares de ficção. Ou seja, sempre que o leitor acredita que tudo o que está sendo dito é verdade, na sequência um engenhoso procedimento literário lança dúvida e coloca tudo a perder. 

Assim é Rubem Fonseca, que em sua nova obra, editada simultaneamente à coletânea de contos “Axilas e Outras Histórias Indecorosas”, se mantém fiel ao pensamento do poeta russo americano Joseph Brodsky, para quem a verdadeira biografia de um escritor está contida em seus livros. Essa frase aparece na seção de seu site dedicada à sua trajetória, que presenteia o leitor com apenas cinco linhas, secas e diretas como o estilo do autor. Foi nesse site, aliás, que Fonseca começou a esboçar “José”. Viciado em internet, que usa inclusive para conversar com amigos escritores como João Ubaldo Ribeiro, ele publicou partes da obra entre 2004 e 2005. Agora, ela ganha forma acabada. Num jogo de esconde-esconde, o leitor se depara com passagens que caberiam bem a um menino nascido numa família dada a modernidades – a mãe teria sido a primeira mulher a fumar e a dirigir um carro em Minas Gerais e o seu pai teria batizado o seu negócio, uma loja que vendia de “alfinetes a automóveis”, de Paris n’América. O garoto, que teria aprendido a ler sozinho, vivia, aliás, em Paris – os livros em que mergulhava eram todos de procedência francesa, nada para crianças de sua idade. E isso é verdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário